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Nelson Mandela e o mundo: um exemplo de vida em prole do outro

Por Sebastien Kiwonghi

 

Reconhecendo a luta pela liberdade e pela proteção dos direitos humanos, a Organização das Nações Unidas (ONU), pela primeira vez em sua história, dedicou um Dia a ser celebrado mundialmente a uma pessoa física: Nelson Mandela. Infelizmente, a comemoração ocorreu enquanto estávamos de férias. Para não desperdiçar a oportunidade de convidar os acadêmicos e profissionais de direito a refletir sobre a relevância do evento e da vida do festejado prêmio Nobel da Paz, cabe-nos, então, o dever de analisar o impacto e reflexo do dia em tela.

Trata-se de um reconhecimento sem precedente, tendo em vista, as celebridades que já gravaram seus nomes nos anais da história da humanidade, tais quais Ghandi, Martin Lutero King, Madre Tereza de Calcutá, Princesa Diana, o Papa João Paulo I, Chico Mendes, etc. 
O dia 18 de julho foi declarado Dia Internacional Nelson Mandela e comemorado no mundo inteiro, lembrando em primeiro lugar a luta contra apartheid, a luta pela liberdade e proteção dos direitos humanos e, ao mesmo tempo, o símbolo que é o próprio Mandela para a humanidade. 

O que não deixou indiferente o Secretário Geral da ONU de dizer que “Mandela nos mostrou o caminho. Ele mudou o mundo. Somos profundamente agradecidos.” 
Analisando a luta do Nelson Mandela, três palavras definem toda a trajetória de um ser humano excepcional, vencedor da discriminação racial, nocauteando o apartheid, promotor da reconciliação e da paz em uma sociedade dividida em classes e garantidor da (re) construção de uma sociedade fraterna, solidária e igualitária baseada na luta contra a pobreza, na proteção e defesa dos direitos humanos e na paz social. Tratam-se da LIBERDADE, da JUSTIÇA e da DEMOCRACIA.

Tais palavras que ressoam como slogans cheios de significado e significante revelam toda a dimensão humanitária escondida igual um tesouro inesgotável no fundo do coração de Nelson Mandela e que falta a muitos dos atuais dirigentes do mundo que fazem da miséria e da extrema pobreza de milhões de pessoas seu fundo de comércio para a perenidade do capitalismo selvagem.

Assim, para Mandela, ter consciência da importância da liberdade leva à indignação ética e moral, pois, quando se trata do trabalho dos pobres que enriquecem um governo discriminatório, exploratório e opressor, por que, então, os pobres devem continuar a trabalhar por aqueles que se aproveitam do seu suor e sangue? “por que deveríamos continuar a enriquecer aqueles que roubam o produto do nosso suor e nosso sangue? Aqueles que nos negam o direito de nos organizar em sindicatos".

Para não servir de bode expiatório ao regime de apartheid, Mandela teve que abdicar de sua empresa, de sua profissão, de sua família, vivendo na pobreza e miséria como seus conterrâneos a fim de executar com seriedade um programa libertador, ciente da vitória final com a queda do governo opressor. A escolha da liberdade como principio de vida levou Mandela a refutar a idéia de deixar a África do Sul: “No meu caso, fiz a minha escolha. Eu não vou deixar a África do Sul. Eu não me rendo. A liberdade é conquistada à custa de provações, sacrifícios e na defesa da vida. A luta é a minha vida. Vou continuar a lutar pela liberdade até o fim dos meus dias.”

Como se pode perceber, Nelson Mandela fez de sua vida uma luta constante pela liberdade e justiça, bem como pela igualdade perante a lei como garantia pelo exercício pleno dos direitos democráticos de cada cidadão. Diante da falta da representação dos negros no Parlamento sul africano, Nelson Mandela, chegou a desafiar o poder instituído pela minoria branca, nesses termos: “ Eu me considero nem moralmente nem juridicamente obrigada a obedecer a essas leis promulgadas pelo Parlamento no qual não estou representado.”

Nesse caso, ninguém deve se sentir obrigado moralmente ou legalmente obrigado a obedecer às leis que não tivesse aprovado através de seus representantes. Em breve no Brasil, haverá eleições. A postura de Nelson Mandela pode inspirar milhares de eleitores para valorizar o voto, opondo-se à ditadura dos eternos políticos com a ficha suja e roupas limpas, pois “a vontade do povo é a base da autoridade do governo.”

No entendimento do Nelson Mandela, as minorias devem lutar para conquistar os diretos políticos a fim de almejar a educação e a qualificação profissional, evitando-se, desse modo, as deficiências permanentes criadas pela discriminação racial. O advento da democracia garantiria a harmonia racial e a liberdade para todos.

É bem de ver que a luta do Nelson Mandela além de ser uma luta contra o apartheid e desigualdades sociais, é, acima de tudo, uma luta pelo direito de viver, pois, segundo ele, “Eu dediquei minha vida a essa luta do povo Africano. Eu lutei contra a dominação branca e lutei contra a dominação negra. Eu estimo o ideal de uma sociedade livre e democrática em que todos os membros pudessem viver juntos em harmonia e com oportunidades iguais. É um ideal que espero viver e espero conseguir. Mas se for necessário, é um ideal pelo qual estou preparado para morrer.”

Assim, a marcha para a liberdade se torna irreversível. Sem medo, podemos fazer acontecer tanto o progresso como a justiça. A trajetória de carinhosamente chamado de “Madibu” deve levar cada ser humano à uma reflexão profunda sobre os diferentes sistemas ou mecanismos de discriminação ainda vigentes em nossa sociedade. É dever de cada pessoa lutar pela liberdade, justiça e democracia. Lutar contra a pobreza e a miséria não é um gesto de caridade, mas uma obrigação, um ato de justiça, bem como a luta pela proteção e defesa dos direitos humanos e por uma vida digna e decente.

Que cada pessoa, amorosa da paz, liberdade, justiça e democracia, faça de cada dia um Dia Nelson Mandela para que a civilização humana seja enriquecida na sua diversidade pelas ações nobres e sublimes, independentemente de raça, religião, credo, sexo, opção sexual, casta, cor, etnia, classes e práticas sociais e culturais.

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