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Por Sebastien Kiwonghi

 

SebastianO espectro da presença americana na África tem-se tornado cada vez mais evidente com a pressão estadunidense sobre o regime do Kadhafi e, recentemente, com a visita da Secretaria de Estado norte-americano Hillary Clinton na Zâmbia, Tanzânia e Etiópia. 
Existem muitos fatores para justificar sua presença no continente africano, além da questão da AIDS, da segurança alimentar e do crescimento econômico. 

O principal motivo, sem duvida, se refere à presença chinesa na África que Hillary Clinton considera de “neocolonial ismo”. Segundo ela, os Estados Unidos tem melhorado a governança política e econômica em alguns países africanos, contrapondo-se ao modelo político da China que, na sua visão ocidental, nada tem de papel político, citando como exemplo o controle da internet pelo governo chinês. 

É lamentável ver a secretária norte americana ostentar um discurso imperialista e moralizador contra os interesses chineses na África, comportando-se em verdadeira doadora de lições. "Quando as pessoas vêm à África para fazer investimentos, queremos que elas sejam bem-sucedidas, mas também queremos que façam o bem", afirmou ela, na sua visita em Lusaka (Zâmbia). "Não queremos que elas minem a boa governança na África”, ressaltou ainda. (Disponível em: http://www.domtotal.com/noticias/detalhes.php?notId=336974> Acesso em: 12 jun.2011). 
 

Vale tecer considerações que, no governo Bill Clinton, o continente africano havia sido abandonado, e na região dos Grandes Lagos apenas Ruanda era visitado como Estado pelas autoridades americanas, sendo uma maneira bajuladora de fazer meia-culpa quanto ao genocídio ruandês de abril de 1994. As ações norteadoras da visita de Hillary Clinton demonstram claramente a continuidade da guerra fria na África onde grandes potencias continuam se enfrentando por pessoas interpostas ou grupos étnicos manipulados, assim como ocorre na Líbia. É profundamente inquietante ouvir de Hillary Clinton que a África tem mais lição de democracia a receber dos Estados Unidos que da China. 

Ao atacar a China na África onde os efeitos de investimentos chineses começam a ter visibilidade no meio de populações pobres, Hillary Clinton mostrou-se arrogante e se esqueceu do passado recente em que os EUA cometiam crimes contra a paz e crimes contra a humanidade ao apoiar regimes ditatoriais, tais quais os de Mobutu (Zaire, atual RDC), Eyadema (Togo) e Mubarak (Egito). 

Apesar de algumas imperfeições, percebe-se um satisfecit da parte dos africanos no que tange ao modelo chinês de desenvolvimento na sua vertente de infraestruturas, pois em mais de 50 anos de independência da maioria dos países africanos, é a primeira vez que se observa uma diversidade de obras nas grandes cidades e uma previsão otimista de crescimento econômico com forte diminuição da pobreza. A grandiosa estratégia americana é dominar o continente e seu líder como nos anos da guerra fria e da ditadura militar durante os quais a CIA matava e promovia golpes militares numa África sempre em chama sem chance de usufruir de seus recursos naturais.

Hoje, os africanos sabem, pelo menos, aonde vão suas riquezas (na China, obviamente), mediante contratos win win ou gagnant-gagnant. O que tem incomodado o ocidente, inclusive Hillary Clinton. A Líbia é um exemplo disso. 75 empresas chinesas assinaram contrato com Kadhafi para investir naquele pais 20 bilhões de dólares. Pode-se comparar com os 40 ou 100 milhões de dólares que o FMI empresta aos países africanos, com juros altos, a ponto de asfixiar os mesmos a cada ano com ascensão tremenda da divida externa.

Sabe-se que a trágica situação dos refugiados, a pobreza extrema, as doenças endêmicas e a fome crônica na África são raramente frutos de catástrofes naturais, pois seus fatores geradores estão nas ações humanas, na cumplicidade da elite africana com a máfia ocidental alimentada pelas empresas trans e multinacionais. 

A visita sedutora de Hillary Clinton não passa de uma estratégia dos EUA para recuperar o mercado de recursos naturais conquistado pela China devido ao vácuo deixado pelos ocidentais preocupados com as guerras no Iraque e no Afeganistão. Existe uma preocupação americana com a segurança econômica diante de uma China determinada a se tornar a primeira potencia mundial em todos os setores.

Vale a pena lembrar que no auge da guerra fria, a principal ameaça americana era o comunismo. E hoje em dia, os EUA temem que a China seja unanimidade na África pelo modelo econômico diferente dos anos 80, imposto pelas instituições do Bretton Wood (FMI e Banco Mundial) aos países subdesenvolvidos assentados no tripé: democracia, respeito aos direitos humanos e desenvolvimento equilibrado – hoje sustentável -, e, mais tarde, será acrescentado o requisito de boa governança. 

As promessas americanas feitas aos dirigentes africanos pela Secretaria de Estado Hillary Clinton fazem parte do plano norte americano de manter o controle sobre os dirigentes africanos propensos a adotar o modelo econômico chinês, substraindo-se do jugo colonial imperialista e explorador sem vergonha. É a vez dos Estados periféricos questionarem o modelo de democracia e de boa governança imposto sob a mira de armas, como ocorre na Líbia.

Contra ataque do império na África: a visão moralista da Hillary Clinton

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