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Por Sebastien Kiwonghi

 

O fim da guerra fria, a queda do Muro de Berlim (1989), o desmembramento da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), a criação e o alargamento da União Europeia (EU), bem como a criação de outros blocos econômicos, mediante acordos regionais, não colaboraram para a construção de um mundo totalmente pacificado em que prevaleceria o respeito mútuo entre culturas, povos, raças, línguas e nações. Vive-se, pelo contrário, um clima de terror, através de atos terroristas motivados pelo ódio contra tudo o que é ideologia ou cultura ocidental, sobretudo, tudo o que se refere aos Estados Unidos da América (EUA), considerados pelos radicais muçulmanos como o grande Satanás, o símbolo da perdição e da disseminação de anti-valores.

É imperioso frisar nesse contexto de acontecimentos mundiais que, segundo Hannah Arendt (1992)¹ , os aspectos do mundo moderno e de sua crise se revelaram na crise educacional, isto é, quais são os motivos reais para que, durante décadas, se pudessem dizer e fazer coisas em contradição tão flagrante com o bom-senso? (p.234)

De fato, para Arendt, uma crise na educação seria um motivo de preocupação e de instabilidade na sociedade moderna. Trata-se de uma questão de responsabilidade porque educa-se para a vida, evitando-se a destruição.

Além disso, observa-se, na sociedade moderna, a coexistência do binômio egoísmo e racismo, o antagonismo solidariedade e exclusão social, o paradoxo entre Estados ricos porém, pobres em recursos naturais, e Estados pobres, mas riquíssimos em recursos naturais e biodiversidade, a relação ambígua e ambivalente entre a diversificação cultural, populacional como riqueza pela humanidade e a complexidade de ideias e cosmovisões como fatores de divisão e conflitos entre os povos na busca de sua auto-afirmação. Em face desta acentuação aparente de abismo entre ricos e pobres, entre Estados desenvolvidos e Estados menos desenvolvidos, ocorrem os conflitos e lutas armadas, guerras sangrentas por diversos motivos, a maioria ligada à exploração dos recursos naturais dos Estados menos desenvolvidos para alimentar a indústria bélica ocidental, contribuindo, para tanto, ao crescimento econômico das grandes potências em detrimento dos pobres. Tal exploração acarreta conflitos sangrentos cujos autores pobres e fracos se tornam alvo da Corte Penal Internacional por genocídio, crimes de guerra, crimes contra a humanidade e agressão. Não se pode ignorar que a humanidade tem vivido uma nova Era da geopolítica mundial em matéria prima, deixando evidente o que Milton Santos qualifica de globalização perversa diante da busca do lucro como consequência da competitividade econômica mundial.

Nessa seara, observa Santos (2004):

A perversidade sistêmica que está na raiz dessa evolução negativa da humanidade tem relação com a adesão desenfreada aos comportamentos competitivos que atualmente caracterizam as ações hegemônicas. Todas essas mazelas são direta ou indiretamente imputáveis ao presente processo de globalização. (SANTOS, Milton. Por uma globalização: do pensamento único à consciência universal. 2 ed. Rio de Janeiro: Record, 2004, p. 20)

Com efeito, o tempo atual é de complexidade, marcada pela corrida desenfreada dos Estados industrializados para os Estados periféricos detentores de fabulosas reservas mundiais de matéria-prima, ou seja, de recursos naturais que definirão futuramente a potência econômica daqueles que saberão ler profeticamente os sinais dos tempos com o avançar da história sobre as realidades sociais.

A globalização da economia que, de um lado, tem provocado intensas ondas migratórias para novos eldorados, e, do outro, tem revelado a briga entre as grandes potências em busca de novas fontes de minerais raros para o crescimento industrial e da liderança no campo econômico, a fim de controlar o mercado dos recursos naturais importantes para a revolução industrial em sintonia com a revolução “verde”, ou seja, a possibilidade de criar uma plataforma jurídica que obrigaria os Estados poluidores a reduzir as emissões antrópicas agregadas, expressas em dióxido de carbono, dos gases de efeito estufa. É hora de promover práticas sustentáveis de manejo florestal, tendo em vista o florestamento e reflorestamento. É hora de efetivar a criação de um fundo verde e de lutar contra o aquecimento global.

Insta manter, nesse caso, pressões sobre as grandes potências para que mudem de paradigma no tocante ao desenvolvimento econômico dos países pobres e emergentes e busquem a promoção dos valores éticos assentados na proteção internacional da Pessoa Humana e dos direitos humanos tanto no plano global como regional, particularmente na Europa, América e África.

Assim, sendo a dignidade humana inalienável e irrenunciável, pode-se dizer que “um outro mundo é possível” com a promoção da solidariedade e das relações harmoniosas ou amistosas entre os povos tanto na vivencia e convivência como no respeito ao pluriculturalismo.

Competitividade econômica na Era da geopolítica mundial: uma questão de direitos humanos

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