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Por Sebastien Kiwonghi

 

Este artigo apresenta uma abordagem da política externa do governo Obama sobre o continente africano, de modo geral, e sobre os Estados africanos visitados pelo Presidente Barack Obama e pela Secretária de Estado americano, Hillary Clinton, em particular. Foram grandes as expectativas com a eleição de Obama por ser, em primeiro lugar, o primeiro afroamericano eleito presidente da maior potência do mundo, os Estados Unidos, e, segundo, por ser filho de um economista keniano, que voltou para a África, acreditando nas promessas da elite keniana no poder em construir um país democrático e de direito, próspero e sem desigualdades sociais.

Sabe-se que após a segunda guerra mundial, as relações internacionais foram conduzidas pela emancipação dos povos colonizados e sob tutela de alguns Estados ocidentais. A onda emancipatória iniciada nos anos 50 e 60, continuaria até os anos 90, culminando na independência de quase todos os Estados colonizados, aumentando, para tanto, a participação dos Estados na Organização das Nações Unidas (ONU), e modificando, ao mesmo tempo, o quadro do paradigma dominante das grandes potências, bem como as relações a serem definidas entre mestres (colonizadores) e escravos (colonizados) ou entre Estados independentes e soberanos.

Tal processo de descolonização vai desencadear na África uma outra forma de dominação e exploração através da política denominada “França-África”, ou seja, uma maneira de manter a presença imperialista francesa em suas antigas colônias apesar da independência concedida, preservando, deste modo, os interesses econômicos da França, consequentemente, os de outros Estados ocidentais no auge da guerra fria e da bipolarização mundial.

A retomada da consciência e as resistências manifestadas em alguns povos africanos não bastaram para impedir a exploração sistemática do continente e a corrupção de sua elite a serviço das potências exteriores. Não houve, evidentemente, verdadeiro rompimento de laços coloniais entre a África, a Europa e os Estados Unidos. Viu-se, pelo contrário, mais uma busca de socialismo por uma parte de elite africana, descontente do domínio do capitalismo, sonhando com mudanças através dos movimentos socialistas.

Dá-se, para entender, portanto, durante década, a falta de interesse real para com o continente africano onde foram transladados os conflitos latentes entre as potências, inclusive, a guerra fria, com confrontos dos dois blocos, capitalista e socialista, por africanos interpostos nas guerras de Argélia, Biafra (Nigéria), Congo-Kinshasa, Angola, Etiópia e Moçambique. É neste contexto que se pode, também, entender a política dos governos americanos que antecederam a eleição de Barack Obama.

Circula a tese sobre a prioridade dos EUA no tocante ao continente africano, no momento em que os interesses dos Estados emergentes e já vistos como novas potências, a China, a índia e o Brasil, se intensificam. Os EUA visam focar as discussões sobre o respeito aos direitos humanos, à democracia, à boa governança e o desenvolvimento sustentável. Pretendem, ainda, reconquistar o espaço perdido em detrimento da China, mediante o financiamento de projetos para erradicar a pobreza extrema, combater os abusos sexuais contra mulheres em zonas de conflitos e apoiar os programas de combate ao vírus HIV/Sida.

Quanto à política externa americana, Barack Obama, já em seu discurso de investidura, observava nesses termos: “Para aqueles que se agarram ao poder através da corrupção e fraude, amordaçando as opiniões divergentes, saibam que vocês estão do lado errado da história, mas vamos estender a mão se vocês estiverem dispostos a afrouxar o aperto.

Para as pessoas nos países pobres, temos a promessa de trabalhar com vocês para garantir que suas fazendas prosperem e que o fluxo de água corra, alimentando os corpos famintos e as mentes vorazes. E a esses países, como o nosso, que têm uma abundância relativa, dizemos que já não podemos nos dar ao luxo de sermos indiferentes ao sofrimento fora das nossas fronteiras, nem consumir os recursos do planeta sem nos preocuparmos das consequências. Na verdade, o mundo mudou e temos que evoluir com leitura, mostrando o seu desengajamento e a ruptura com a política desastrosa de Georges W. Bush.” (tradução nossa)

Consoante ao discurso de Obama, o pronunciamento de Susan Rice, em 12 de agosto de 2009, na Universidade de Nova Iorque, na qualidade de representante permanente dos EUA perante a ONU, deixa claro as linhas da política adotada pelo governo americano e que interpelam as boas consciências sobre a volta com pompa dos EUA no cenário internacional. No entender do Samuel Brock, embaixador americano no Congo, os Estados Unidos se comprometem a uma mudança profunda de sua política perante as outras organizações internacionais, principalmente com a ONU. A administração Obama anuncia uma outra nação « os Estados Unidos New-look » os quais são uma antítese das administrações antecedentes. Trata-se de uma nova visão política baseada em princípios básicos amparados fundamentalmente por um quadro assecuratório.

Não se pode olvidar que o pano de fundo seja a rivalidade sino-americana, tendo em vista a forte e significativa presença chinesa no continente africano, coroada pela assinatura de vários contratos baseados na política de “gagnant-gagnant” (eu ganho, você ganha, ou seja, win-win).

Os desafios apontados por Susan Rice são revestidos de uma dimensão internacional, tais quais os perigos da proliferação nuclear, as mudanças climáticas, as pandemias e a crise financeira global. Estes desafios, disse o representante permanente dos Estados Unidos na ONU, são ameaças reais à segurança dos Estados Unidos no século XXI.

Além disso, Rice disse que "nunca foi tão necessário hoje para trabalhar no sentido de uma cooperação multilateral eficaz para atender os interesses dos Estados Unidos e para garantir um futuro comum de paz e prosperidade. Para ela:" Esta cooperação exige um número cada vez mais elevado de “Estados democráticos e competentes” dotados da vontade política necessária para levantar os desafios. "Os Estados Unidos estão mais preparados para desempenhar um papel de liderança no seio das Nações Unidas", observa Susan Rice.

No tocante à ONU, o governo Obama procura, principalmente, promover os interesses americanos essenciais para a segurança nacional, dentre dos quais, a Não-Proliferação de Armas Nucleares, a estabilidade e o desenvolvimento do Iraque e do Afeganistão. 

As linhas claras de política do governo Obama podem ser classificadas em cinco setores, a saber, situação geopolítica e geoestratégica da África no cenário mundial, a importância da democracia, a boa governança, o respeito aos direitos humanos, a saúde na luta contra o vírus HIV e doenças endêmicas e o desenvolvimento sustentável com ênfase na energia renovada e preservação do meio ambiente.

Em seu discurso no Parlamento ganense em Accra, o presidente dos EUA, Barack Obama, relembrou, através de sua história pessoal, a importância da África tanto em sua vida como no âmbito mundial. Mostrando a importância de superar as fronteiras entre pessoas por relações amistosas e harmoniosas, Obama preconizou não ver os países e povos da África como um mundo à parte, mas ver a África como um elemento do nosso mundo globalizado.

No tocante à colonização, para Obama, "É fácil apontar os dedos e culpar os problemas dos outros. Sim, um cartão, depois da liquidação, sem lógica, um produto do conflito é que o Ocidente tem frequentemente tratado a África como um cliente, em vez de tratá-la como parceiro. Mas o Ocidente não é responsável pela destruição da economia do Zimbábue na última década, ou de guerras em que as crianças estão matriculadas ". (Cf. BBC Afrique) 

Abordando a questão de democracia, Barack Obama, interpela os dirigentes africanos que procuram mudar as Constituições para se manter no poder com mandado ilimitado, convidando-os à criação de instituições fortes e não de homens fortes. 

"Em toda a África, temos visto inúmeros exemplos de pessoas que tomam seu destino nas mãos e fazer a alteração da base. No Quênia, a sociedade civil e o setor empresarial uniram forças para ajudar a acabar com a violência pós-eleitoral. Na África do Sul, mais de três quartos do país votou nas últimas eleições, a quarta desde o fim do apartheid. No Zimbábue, a Rede de Apoio para a eleição enfrentaram a repressão brutal de fazer valer o princípio de que o voto de um eleitor é sagrado.

Não nos enganemos: a história está do lado dos africanos corajosos, não do lado daqueles que recorrem a golpes ou mudam a constituição para permanecer no poder. África não precisa de homens fortes, precisa de instituições fortes ". (tradução nossa) 

Reafirmando a sua política de boa governança, Obama ressalta que, in verbis: 

"Com melhor governança, não tenho dúvidas de que a África traz a promessa de uma maior prosperidade. O continente é rico em recursos naturais, e, com as operadoras de telefonia móvel para os pequenos agricultores, os africanos têm demonstrado sua capacidade e vontade para criar novas oportunidades. Mas também temos de abandonar velhos hábitos. Dependência de matérias-primas, ou um único produto de exportação, concentra riqueza nas mãos de poucos e deixa as pessoas muito vulneráveis a crises". (tradução nossa) 

No mesmo sentido, cumpre trazer à baila a política de ajuda financeira no valor de três bilhões de dólares, para a segurança alimentar, reduzindo os custos destinados a consultores ocidentais e administração, concentrando-se, portanto, a iniciativa em “novos métodos e tecnologias para os agricultores (...), sendo que ajuda não é um fim em si mesmo. O objetivo da ajuda externa é garantir que não há mais necessidade. " 

Na área de saúde, o governo Obama promete bilhões de dólares 
para concretizar estes objetivos com a saúde pública. “Baseia nos esforços significativos do presidente Bush na luta contra a AIDS, vamos continuar os esforços para combater esta doença. Continuaremos nossa luta contra a malária e a tuberculose, e para erradicar a poliomielite. Nós vamos lutar contra as doenças tropicais. E não de forma isolada, nós vamos investir em sistemas de saúde pública para promover a saúde, e focar a mãe e a criança ".

Para concretizar tais objetivos, em sua recente visita à República Democrática do Congo, a Secretária de Estado americano, Hillary Clinton, para socorrer as mulheres, vítimas de abusos sexuais na província de Kivu, prometeu uma ajuda de 17 milhões de dólares. 
No que se refere ao futuro da África, Obama, em um tom lapidar deixa claro que o mesmo pertence aos africanos. Os povos da África estão prontos clamando pelo futuro. “As I said earlier, Africa’s future is up to Africans. The people of Africa are ready to claim that future.”

Tendo em vista a coragem do povo africano e as realizações dos migrantes nos Estados Unidos que venceram, ocupando vários setores em sinal de sucesso, Obama aduz que “com instituições fortes e uma vontade forte, eu sei que os africanos podem viver seus sonhos, Nairóbi, Lagos, Kigali e Kinshasa, Harare, e aqui em Accra.”

Em todo caso, é importante ressaltar a nova visão dos Estados Unidos no que se refere ao continente africano, considerando, dentre outros aspectos positivos, o de convidar os jovens a interpelar suas lideranças para construir instituições fortes e democráticas capazes de servir os povos. Para isso, precisa-se de uma tomada de consciência e responsabilidade para mudar as coisas, pois chegou uma nova era para África em que os africanos também podem parafrasear Obama: “Change We can Believe In”, “Change We Believe In.” Com certeza, para africanos, “That’s the Change We Need in Africa and all countries”.

A política do governo Obama referente à África

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