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Por Sebastien Kiwonghi

 

Em um dos nossos artigos neste Portal, dizíamos que o continente africano, contrariamente à visão negativista e pessimista dos auto-proclamados especialistas da política africana, tem emitido sinais positivos de recuperação econômica, tornando-se viável, freqüentável e palco de interesses de grandes potências devido a seus inesgotáveis recursos naturais. A última Conferência sobre o Clima em Copenhague mostrou a força dos países africanos que, atualmente, sabem de sua a importância quanto à sobrevivência da humanidade em questões ambientais junto com o Brasil.

Infelizmente, vale ressaltar, como sublinhamos em nosso livro “O Conselho de Segurança da ONU e os conflitos nos Grandes Lagos”, os juízos de valor emitidos sobre a África referem-se a um continente abandonado pela comunidade internacional e mergulhado nas guerras étnicas e sujeito a crises e catástrofes humanitárias. A problemática da violência no continente africano se insere num primeiro momento na lógica da doutrina realista do equilíbrio de forças, considerada pelos realistas como instrumento por excelência de pacificação de um ambiente anárquica, tendo em vista o surgimento após a acessão à independência da maioria dos países africanos de conflitos de sucessões oriundos de contestações de sistemas políticos vigentes em alguns dos seus Estados.

Trata-se da época em que prevaleciam os golpes militares, as rebeliões e as intervenções de mercenários para defender uma determinada ideologia em detrimento de vidas humanas, gerando, para tanto uma instabilidade crônica do sistema internacional.

Apesar de registrarmos, ainda, alguns focos de conflitos em alguns países africanos, nota-se, hoje em dia, um clima favorável aos investimentos e à reconstrução das infra-estruturas adequadas para assegurar o desenvolvimento sustentável das populações esquecidas há década.

Tal otimismo se justifica também pelas medidas anunciadas por muitos chefes de Estados africanos em suas mensagens às nações na ocasião do Ano Novo para melhorar as condições sociais de seus respectivos povos. De fato, 2010 será um ano de prestação de contas entre governantes e governados em 17 Estados africanos que celebrarão os 50 anos de independência, ou seja, de Estados livres e soberanos, protagonistas de seus destinos após anos infernais do jugo colonial.

Não obstante os discursos nacionalistas, revolucionários e a liberdade de escolha quanto à corrente ideológica de cada um, força é de reconhecer que ainda faltam muitas coisas no continente africano após 50 anos de independência política, mas não econômica, pois, em suas relações econômicas muitos Estados africanos ainda não saíram da dependência subserviente dos países desenvolvidos. A África depende fortemente do ocidente, perpetuando, portanto, as relações de mestre – escravo, pois a política França-África tem mostrado a exploração dos recursos naturais dos países africanos, enriquecendo os ocidentais em detrimento das populações africanas cada vez mais pobres.

Portanto, parece-nos lógico que as celebrações de 50 anos de independência de vários países africanos sirvam também para uma profunda meditação sobre a dependência vergonhosa de dirigentes africanos que assumiram o poder no lugar daqueles que instituíram a política colonialista e predadora das riquezas do continente para uma tomada de consciência a fim de re-colocar os países africanos no concerto das nações, pois, atualmente, muitos chefes de Estados africanos têm acumulado fortunas nos bancos ocidentais sem se importar com a miséria e pobreza extrema de suas populações. É vergonhoso ver presidentes africanos morrendo nos melhores hospitais ocidentais sem ter construído nenhum hospital moderno em seu país de origem, menos ainda, um posto de saúde em sua cidade natal, e pior ainda, sendo contado dentro dos mais ricos do mundo.

As celebrações dos 50 anos de independência desses países africanos deve ser a oportunidade privilegiada de refletir sobre a melhoria das condições sociais das populações sofridas da África, e favorecer um clima de investimentos que possam ajudar na criação de empregos, na construção de moradias dignas e na elaboração de políticas educacionais realistas para assegurar o ensino básico gratuito, bem como melhorar as condições de saúde da mulher, lutando contra a mortalidade infantil e combatendo o vírus de HIV/sida e as doenças endêmicas, tal qual a malária. Tais políticas sociais voltadas para a melhoria das condições das populações viabilizariam a institucionalização da democracia, legitimaria o poder e possibilitaria a boa governança e a alternância no poder.

É muito importante lembrar isso, pois observa-se a tendência em vários países africanos de mudar a constituição para perpetuar os “dinossauros”no poder, verdadeiros inimigos de seus povos por não promover nenhuma mudança nas condições sociais desastrosas da maioria das populações em um continente rico, tendo ainda pessoas vivendo com menos de um dólar por dia.

2010, ano de esperança e de intensa diplomacia pelos países africanos. Um dos grandes desafios dos dirigentes africanos é não apenas assumir uma soberania nacional, internacionalmente reconhecida, uma política exterior, uma política monetária e a defesa que, antigamente, estavam nas mãos dos colonizadores, mas, como dizia Jesus Cristo aos seus discípulos ao ver as populações famintas como ovelhas sem pastores, “dar-lhes vocês mesmos de comer e beber.” Como melhorar as condições dos povos africanos em 2010, nos países em que imperam a corrupção, uma das pragas do subdesenvolvimento? Como sanar os males que afetam as economias dos países africanos apesar dos recursos naturais fabulosos, objeto de cobiça dos países ricos?

Com certeza, nãos seria utópico dizer que, com o fim da corrupção e, reinventando a África dos pais fundadores e retomando os valores e princípios de solidariedade, de partilha, de respeito mútuo entre pessoas e entre Estados, da valoração da vida e da dignidade humana, presentes nas culturas africanas tradicionais, mescladas com uma dose dos princípios modernos de democracia, boa governança, desenvolvimento sustentável e respeito aos direitos humanos, as populações africanos passariam do inferno ao paraíso, pois, sem opressão e exploração, o continente de modo geral, tem condições de fomentar o progresso social baseado no desenvolvimento sustentável e na superação de conflitos que o assolam, muitos deles preparados no exterior ou nas repartições diplomáticas dos países ricos a fim de perpetuar a exploração dos recursos naturais em nome do progresso econômico e lucrativo do ocidente.

De qualquer forma, o sonho de países africanos de se sentirem verdadeiramente soberanos, independentes e donos de seus destinos paradisíacos persiste antes que Al Quaeda se ocupam dos desempregados, desanimados e desesperados por falta de alternativas para abraçar o caminho do mal, ou seja, servirem de “mulas” carregadas de explosivos como ocorreu com o jovem nigeriano Umar. É nos lugares mais pobres que se recrutam mais os jovens-bombas. Que os dirigentes africanos tomam ciência do perigo para melhorar urgentemente as condições sociais de suas populações. Sim, a África dos meus sonhos há de vir com a consciência patriótica e humanista e não com senso egoísta, individual e maquiavélico de alguns africanos e seus aliados ocidentais.

2010 : um ano de esperança para África

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